Uma pesquisa do GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas (2022-2023) revela que 55% dos investidores sociais considerados como híbridos, ou seja, executam e financiam projetos, estão mais voltados em participar do que em injetar dinheiro em uma ação, entidade ou projeto de impacto e filantropia. Na outra ponta, dados dos Institutos PIPA e Nu mostraram que 95% dos responsáveis pela implementação de iniciativas socioambientais nas periferias brasileiras relataram dificuldades de acessoa financiamentos para tocar as suas atividades.
Isso descortina uma abordagem pertinente no engajamento ESG: o confiar. A chamada Filantropia Baseada na Confiança tem em sua essência o compartilhamento de responsabilidades entre doadores e beneficiários, que mutualmente e se tornam parceiros e facilitadores, e não apenas uma relação fundamentada em poderes. “Para colocá-la em prática, exige-se inovação, escuta e abertura para o novo. Isso parte da premissa de reequilibrar relações entre financiadores e organizações sociais, promovendo vínculos de confiança mútua como base ao impacto sistêmico”, comenta Beatriz Waclawek, gerente de investimentos sociais no Movimento Bem Maior, entidade que tem como missão ativar o potencial transformador da sociedade civil no país por meio da filantropia estratégica e colaborativa.
A especialista explica ainda que diferentemente do modelo de filantropia tradicional, centralizado e microgerido, a Filantropia Baseada em Confiança é capaz de valorizar a autonomia das organizações beneficiadas, pois reconhece a legitimidade e o diálogo contínuo, haja vista o investimento principal em proximidade e pertencimento entre doadores e financiados.
Filantropia que conecta
Um exemplo difundido dessa prática é da filantropa norte-americana Mackenzie Scott, detentora de 4% das ações da Amazon, conhecida por realizar doações robustas e irrestritas a organizações sem fins lucrativos ao redor do mundo, totalizando mais de US$ 16,5 bilhões repassados.
O relatório recente produzido pelo Grupo de Trocas e Aprendizagem, composto por 17 das 27 organizações beneficiadas pela filantropa no Brasil, mostrou que juntas contam com mais de 1 mil funcionários, impacto direto a 6 milhões de pessoas e outras 19 milhões são impactadas indiretamente.
“As organizações beneficiadas esperam que o modelo de filantropia que valoriza a autonomia das instituições e investe em sustentabilidade a longo prazo seja replicado no país em maior escala, para gerar, assim, um impacto positivo para todo o terceiro setor nacional”, salienta Cynthia Betti, CEO da Plan International Brasil, entidade beneficiada e participante da pesquisa, ao Observatório do Terceiro Setor.
Por Keli Vasconcelos – Jornalista
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