Energia

Brasil investe R$ 60 milhões em centro para impulsionar produção de hidrogênio limpo

Brasil investe R$ 60 milhões em centro para impulsionar produção de hidrogênio limpo - Fitec Tec News

A busca pela descarbonização e pelo fortalecimento de uma indústria voltada à transição energética avança no Brasil. A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), unidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), lançará um novo Centro de Competência, com foco em hidrogênio de baixa emissão de carbono. O anúncio foi feito durante o 4º Congresso Brasileiro do Hidrogênio, em Brasília (DF). Os recursos estimados em R$ 60 milhões serão viabilizados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico (FNDCT).

Em viagem oficial à Indonésia e à Malásia, a ministra do MCTI, Luciana Santos, destacou a importância do anúncio no contexto da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30). “Essa ação ganha ainda mais relevância num momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30 com a missão de ser o centro das discussões globais sobre o clima. O MCTI está presente em todo o País com projetos que enfrentam diretamente os desafios das mudanças climáticas. Esse investimento reafirma um compromisso que é do nosso ministério e de todo o governo: não há como enfrentar a crise climática sem ciência e sem investimento público. É isso o que estamos fazendo, colocando em prática soluções concretas que fazem a diferença na vida das pessoas”, destacou em mensagem.

A novidade em investimento e pesquisa é voltada a Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) públicas ou privadas, sem fins lucrativos, com infraestrutura física adequada. Os candidatos devem ter forte relação com a indústria e histórico comprovado de projetos na área. A seleção dos interessados será feita até 24 de novembro, pelo site da Embrapii. O resultado deve ser divulgado em maio de 2026.

O novo centro de pesquisa e desenvolvimento busca impulsionar a indústria de baixo carbono, ampliando a produção limpa e o uso de fontes renováveis de forma segura e eficiente. O anúncio foi feito pelo secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec), Daniel Almeida Filho, pasta do MCTI que, junto à Embrapii, será responsável pela condução da chamada pública do projeto.

Segundo Almeida, o MCTI entende ser necessário investir cada vez mais em desenvolvimento científico, tecnológico e inovador, fazendo com que, ao lado do povo brasileiro, tecnologias antes inacessíveis se tornem realidade. Para isso, ainda conforme o secretário, a Embrapii mantém centros de competência em várias áreas disruptivas, como a de inteligência artificial, de tecnologias imersivas, de vacinas e de tecnologias quânticas.

O novo centro continua uma história já traçada pelos dois órgãos, parceiros na busca de inovação tecnológica. Agora, no entanto, o MCTI destaca o hidrogênio como vetor estratégico para as políticas públicas em ciência. “O centro de competência Embrapii tem trabalhado na perspectiva de aproximar o desenvolvimento acadêmico, o desenvolvimento da tecnologia e a aplicação dele. É uma grande especialidade da Embrapii interagir os institutos de ciência e tecnologia com o setor produtivo”, disse Almeida.

 

Popularizar o hidrogênio

 

Os Centros de Competência da Embrapii impulsionam pesquisas de alto impacto e apoiam o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a indústria brasileira. Eles conectam instituições de excelência, aceleram startups deep tech e transferem soluções científicas para o mercado. Atualmente, há nove centros focados em áreas como tecnologias quânticas, 5G/6G, segurança cibernética, mobilidade elétrica e agricultura digital.

De acordo com Almeida, a intenção do novo investimento é popularizar o hidrogênio. “Essa visão estratégica de criar um centro de competência em hidrogênio é exatamente para potencializar e acelerar o desenvolvimento tecnológico, para que a gente possa trazer o hidrogênio para a realidade de cada um de nós, das pessoas, da população brasileira”.

O presidente da Embrapii, Álvaro Toubes Prata, participou do congresso e disse que o hidrogênio representa um importante vetor energético, tanto para a Embrapii, quanto para o Brasil. “A Embrapii fortalece as pesquisas e os avanços na área de hidrogênio por meio das suas unidades e dos seus centros de competência, com 17,8 mil colaboradores nas suas centenas de unidades ao longo das cinco regiões do Brasil, com ênfase muito grande na transformação da indústria em todos os seus segmentos, traduzindo o conhecimento gerado em inovações com impacto econômico, social e na competitividade das empresas brasileira”, disse.

O secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda, Rafael Dubeux, afirmou que a transformação ecológica vai além da simples descarbonização da economia brasileira: ela envolve também o estímulo à inovação tecnológica e ao aumento da produtividade.

“Essa chamada para um centro de competência de hidrogênio de baixo carbono materializa esses objetivos, impulsionando uma indústria com grande potencial para o Brasil e habilitando o País a ser desenvolvedor de novas tecnologias, e não apenas usuário. Esse centro, além disso, possibilitará parcerias internacionais com instituições de ponta, das quais o Brasil participará com o propósito de avançar na fronteira tecnológica”, declarou.

O novo Centro de Competência gerenciará linhas de pesquisa nas áreas de produção do hidrogênio com baixa emissão de carbono através de fontes ecológicas com aplicação no setor siderúrgico, cimenteiro, de transportes, de fertilizantes, de combustíveis, de processos químicos e industriais e de energia elétrica. Além disso, o armazenamento, o transporte e a segurança do hidrogênio serão desenvolvidos.

 

Mais destaques

O 4º Congresso Brasileiro do Hidrogênio, realizado pela Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2) em Brasília, trouxe vários destaque debates sobre “Hidrogênio e Biomassa: Oportunidades para o Brasil na COP30”, “Cadeia de Fornecimento, Transporte e Armazenamento de Hidrogênio” e “Diversidade de Produção de Hidrogênio no Brasil”.

A Superintendente de Derivados de Petróleo e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Angela Oliveira da Costa, dirigiu a primeira plenária. Durante o painel, ela destacou que o hidrogênio é tido como um energético estratégico na transição global e tem sido tema constante das discussões e negociações no âmbito da COP.

De acordo com Angela, a estratégia brasileira de hidrogênio de baixa emissão de carbono passa por três itens: a Lei n 14.948/2024 – Marco Legal do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, consolidar o Brasil como o mais competitivo produtor de hidrogênio de baixa emissão de carbono no mundo até 2030 e consolidar hubs de hidrogênio de baixa emissão de carbono no país até 2035.

Um estudo da EPE aponta o Brasil com um grande potencial de se converter em referência para a produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono. Com matriz elétrica quase 90% renovável, há grande disponibilidade de resíduos agroindustriais e biomassa subutilizados no país. Além disso, o material aponta que há reservatórios geológicos disponíveis e a possibilidade de experiência com injeção de CO2.

Há uma sinergia quando o assunto é hidrogênio e biomassa no Brasil. De forma simultânea, a produção de hidrogênio a partir da biomassa apresenta-se como alternativa de baixa emissão de carbono, competitiva e que oferece vantagens únicas. A expansão e diversificação da bioenergia cria uma demanda interna significativa para o hidrogênio de baixa emissão, gerando benefícios concomitantes.

 

Terreno fértil no Brasil

 

A sessão “Cadeia de Fornecimento, Transporte e Armazenamento de Hidrogênio” foi moderada por Maria Stella Andreão, Engenheira da área de Planejamento e Política Industrial do BNDES. Paula Perfeito, Gerente da Área de Vendas da Neuman & Esser; Byron Souza Filho, Diretor Executivo do CTDUT; Pedro Vassalo, Diretor da Modecom; Alberto Machado, Diretor Executivo de Petróleo, Gás Natural, Bioenergia, Hidrogênio e Petroquímica da ABIMAQ; e Rafael Senra Costa, Gerente Substituto do Departamento de Transição Energética FINEP compuseram o time de debatedores.

Alberto Machado salientou a importância da geração da demanda, pois ela promove toda a possibilidade de desenvolvimento. “O Brasil tem demanda potencial não só na indústria, mas também na área energética. Temos praticamente todas as fontes primárias de energia e com quantidades relativas significativas em relação aos outros países. O Brasil pode ser um ator relevante, pois contamos com as duas pontas, a oferta da energia primária e o mercado potencial”.

De acordo com Machado, seria sem sentido não termos a soberania de decisão. A tecnologia não deve ser importada assim como a engenharia e os equipamentos. “Não tem lógica o que muitas vezes acontece com o petróleo: uma plataforma vem importada e a gente exporta. O que fica para o país? Nada, praticamente. Não podemos passar a exportar mais uma commodity”, explica.

Pedro Vassalo vê com otimismo o rumo do hidrogênio no Brasil pautado nos pontos necessários que temos. “A oportunidade é enorme, o país dispõe de todos os ingredientes necessários na construção de uma cadeia produtiva de hidrogênio sólida e competitiva, em nível internacional. Temos engenharia, centro de tecnologia, grandes instituições governamentais que apoiam iniciativas de inovação, possuímos um banco direcionado a financiar projetos nacionais. Nosso terreno é muito fértil e os ingredientes estão na mesa”.

 

Diversidade primordial em um país continental

 

Outro tema do dia foi “Diversidade de Produção de Hidrogênio no Brasil”. A condução foi de Carlos Peixoto, Diretor de Comunicações da ABH2 e Diretor Executivo H2Helium; Daniel Lopes, Diretor Comercial Hytron (Grupo Neuman & Esser); Isabela Morbach, Fundadora e Diretora CCS BR; Celso Cunha, Presidente da ABDAN; e Thiago Olinda, Coordenador de Gás, Biocombustíveis e Hidrogênio SUPEN – Estado do Paraná.

Daniel Lopes destacou a importância de incluir de Norte a Sul. “Quando abordamos o tema diversidade falamos em incluir e nosso país continental apresenta vocações distintas. Um exemplo é o caminhão a hidrogênio que sai do Paraná com destino ao Ceará e pode ser abastecido com hidrogênio oriundo do biogás no Paraná, do etanol em São Paulo, da nuclear no Rio de Janeiro, da eólica e da solar no Nordeste, da hidrelétrica em Minas Gerais e para o veículo não faz a menor diferença, pois é o mesmo hidrogênio. Isso é incluir e tirar o máximo proveito. O Brasil tem a honra de possuir várias tecnologias na produção de vetores energéticos”.

Foto: Embrapii/divulgação

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