Mudanças Climáticas

CNI elenca 24 ações para destravar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático

CNI elenca 24 ações para destravar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático - Fitec Tec News

Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), lançado, no dia 11 de novembro, elenca 24 ações para viabilizar a nova meta global de financiamento climático (NCQG). O compromisso, aprovado na COP29 em Baku (Azerbaijão), prevê mobilizar US$ 300 bilhões por ano até 2035, com possibilidade de chegar a US$ 1,3 trilhão anuais a partir de fontes públicas, privadas, bilaterais e multilaterais.

O levantamento Nova arquitetura do financiamento climático: mobilização de recursos para a mitigação e adaptação defende a reforma da arquitetura financeira internacional, com instrumentos mais atrativos, acessíveis e de menor custo de capital. Também recomenda o fortalecimento de políticas públicas e mecanismos nacionais, como a Política Nacional sobre Mudança do Clima, o Plano Clima e o programa Eco Invest Brasil.

“Para alcançar escala e impacto no financiamento climático, é preciso repensar o sistema financeiro internacional e fortalecer mecanismos que atraiam o setor privado. A CNI acredita que o fortalecimento do financiamento climático é condição essencial para a implementação efetiva das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), para a transição em direção a uma economia de baixo carbono e para a promoção de um desenvolvimento resiliente e inclusivo”, afirma Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI.

 

Financiamento climático

Embora os aportes globais venham crescendo, o estudo mostra desigualdades no acesso aos recursos. Em 2021-2022, o financiamento climático global atingiu uma média anual de US$ 1,3 trilhão – aumento de 63% em relação ao biênio anterior. No entanto, a maior parte dos fluxos (89%) foi destinada à mitigação, com apenas 11% voltados à adaptação. Além disso, países menos desenvolvidos e pequenos estados insulares receberam, respectivamente, apenas 2,6% e 1% do total mobilizado.

Entre os principais entraves estão o alto custo do capital, a volatilidade cambial, o espaço fiscal limitado e a ausência de incentivos concretos para projetos climáticos, especialmente nos países em desenvolvimento.

Para enfrentar esses desafios e promover maior equidade na distribuição dos recursos, a CNI estruturou 24 ações, organizadas em 11 temas prioritários. As medidas vão desde o aprimoramento de políticas climáticas nacionais até a criação de arranjos inovadores de garantia e incentivo à participação privada.

 

Temas e ações

Ampliar a adoção de políticas climáticas alinhadas ao financiamento climático

  1. Manutenção e atualização das NDCs, considerando a participação da indústria na formulação das metas, incluindo o Plano Clima e a Política Nacional sobre Mudança do Clima.
  2. Políticas específicas de financiamento voltadas para promover ações climáticas.
  3. Existência de taxonomias ou políticas verdes.

 

Papel dos países desenvolvidos na mobilização de recursos para financiamento climático

  1. Manter o papel dos países desenvolvidos na liderança da mobilização de recursos, visando à meta de USD 300 bilhões por ano.
  2. Doações de países desenvolvidos podem ser prioritariamente usadas para determinados tipos de projetos, como adaptação e perdas e danos.

 

Assegurar a captação de financiamento nos BMD com recursos públicos e privados 

  1. Estimular que os BMD garantam a captação pública para projetos climáticos.
  2. Aprimorar a governança dedicada a financiamento climático e para biodiversidade.
  3. Definir quotas de referência para capital público e privado.
  4. Aumentar a capacidade de empréstimo.

 

Abordar os riscos para o financiamento climático

  1. Riscos regulatórios e riscos institucionais.
  2. Barreiras devido aos altos custos de empréstimos, resultantes dos riscos da dívida soberana dos países.
  3. Endividamento dos países e espaço fiscal limitado e volatilidade cambial.

 

Fortalecer arranjos para garantia que viabilizem projetos de forma efetiva  

  1. Aprimorar modelos e arranjos de garantia customizados por tipos de projeto (mitigação ou adaptação).
  2. Definir diferenciais de garantia para projetos de adaptação em países de menor desenvolvimento relativo e países em desenvolvimento que envolvam determinados tipos de objetivos (ex.: saneamento, infraestrutura urbana, transporte).

 

Ampliar o acesso a seguros 

  1. Integrar riscos climáticos como parâmetros para orientar financiamento associado a instrumentos de seguros.
  2. Estimular seguros climáticos para setores, como indústria e agropecuária.

 

Viabilizar a inclusão de valores não reembolsáveis no contexto de instrumentos financeiros 

  1. Definir orientações que promovam a inclusão de recursos não reembolsáveis em certos tipos de projeto.
  2. Garantir que recursos públicos na forma de doações possam integrar instrumentos de blended finance customizados para apoiar projetos.

 

Aprimorar os diferenciais de financiamento climático vis-à-vis outros tipos de projeto

  1. Definir orientações que devem ser consideradas como base para projetos de financiamento climático, visando garantir diferenciais ligados à taxa de juros, às garantias, aos prazos de pagamento, ao volume de recursos elegíveis, entre outros.
  2. Avaliar opções que permitam reduzir os custos de tomada de crédito para financiamentos climáticos.
  3. Expandir plataformas que forneçam liquidez às PMEs para investimentos climáticos.

 

Capacitação para o desenvolvimento de projetos  

  1. Aprimorar o suporte a países para o desenvolvimento de projetos financiáveis.

 

Financiamento para projetos em países que tenham esquemas de precificação de carbono 

  1. Definir orientações que incentivem financiamento de projetos que viabilizem a geração de créditos de carbono seguindo as decisões dos mecanismos do artigo 6 do Acordo de Paris.

 

Definir regras de reporting para todos os atores do ecossistema de financiamento climático 

  1. É essencial que a UNFCCC e o Acordo de Paris definam regras de como reportar financiamento climático no contexto da NCQG.

 

Brasil: cenário promissor para captar recursos

 

Além de propor ações estratégicas, o estudo destaca oportunidades para o Brasil no novo cenário global. Neste ano, o Fundo Clima conta com orçamento recorde de R$ 21,2 bilhões, representando uma janela importante para financiar projetos nacionais.

No cenário internacional, o país já acessa recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), com alocação de US$ 79,83 milhões no atual ciclo, e do Fundo Verde para o Clima (GCF), que soma US$ 12,8 bilhões mobilizados globalmente.

Outra possibilidade é o fundo Alterra, lançado na COP28, em Dubai, com aporte inicial de US$ 30 bilhões. O Alterra prioriza projetos de inovação tecnológica e soluções sustentáveis voltadas à transição para uma economia de baixo carbono, com foco em startups e iniciativas escaláveis em áreas como transição energética, descarbonização industrial, economia circular e tecnologias limpas, especialmente em países emergentes como o Brasil.

Para a CNI, o sucesso da nova meta global dependerá da criação de ambientes regulatórios favoráveis, de instrumentos financeiros eficazes e, sobretudo, de incentivos concretos à mobilização do setor privado. “É esse o caminho que permitirá transformar metas ambiciosas em ações reais de impacto global”, aponta Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.

Foto: Iano Andrade/CNI

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