O mercado de geração distribuída (GD) de energia solar fotovoltaica no Brasil está no meio de uma das suas transformações mais significativas. Longe de apenas expandir em capacidade instalada – que já ultrapassou a marca de 30 GW e continua crescendo a passos acelerados, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) – o setor de instalação e manutenção passa por uma profunda remodelação impulsionada pela tecnologia e pelas novas regras regulatórias.
Analistas e especialistas de mercado, incluindo desenvolvedoras de tecnologia de gestão, como a Everflow, apontam que a maturidade do setor até 2026 será marcada por uma fusão entre a digitalização da gestão de campo e a adaptação final ao marco regulatório estabelecido pela Lei 14.300/2022.
Mercado solar no Brasil
A virada regulatória
O principal catalisador regulatório desta “virada” é a Lei $14.300/2022$, que instituiu o Marco Legal da GD. Após períodos de transição, o setor se estabiliza com as novas regras de tarifação do uso da rede (o chamado “fio B”).
A Contagem Regressiva e a Adaptação: A partir de 2023 e 2024, houve uma corrida para o “direito adquirido” das regras antigas. Agora, a partir de 2025 em diante, a maioria dos novos projetos já opera sob a nova tarifação. Isso obriga as instaladoras e integradoras a refinar seus modelos de precificação e eficiência. A rentabilidade não está mais garantida apenas pelo “Net Metering” integral, exigindo uma otimização rigorosa dos custos operacionais.
Digitalização acelerada
A busca por margens mais apertadas, ditada pelo novo cenário regulatório, está forçando as empresas de instalação solar a adotarem soluções de gestão mais sofisticadas. Conforme apontado por pesquisas globais, como as da McKinsey, a tecnologia avança rapidamente, e o setor de serviços de campo não é exceção.
Inteligência Artificial (IA) e mapeamento de dados
A IA está entrando na rotina do integrador solar em duas frentes cruciais:
- Pré-Venda e Projeto: Softwares de simulação e pré-projeto, integrados com IA, analisam imagens de satélite e dados climáticos para gerar orçamentos e layouts de painéis otimizados em minutos. Isso reduz drasticamente o tempo de resposta e a necessidade de visitas preliminares.
- Análise Pós-Instalação (O&M): Sistemas de IA analisam dados de monitoramento da usina em tempo real, prevendo falhas e indicando a necessidade de manutenção antes que a produção caia. Isso transforma a Manutenção Corretiva em Manutenção Preditiva, garantindo a máxima performance da usina para o cliente e a maior eficiência para a equipe de O&M.
Automação de Processos e Gestão de Campo
A automação é vital para eliminar o desperdício de tempo e otimizar o uso de equipes técnicas.
- ERP/FSM Integrado: A tendência é o uso de sistemas de Gestão Empresarial (ERP) e Gestão de Serviços de Campo (FSM – Field Service Management) que centralizam o fluxo de ponta a ponta: do registro inicial do cliente à emissão de notas fiscais, passando pela alocação automática da melhor equipe para a instalação, com base na localização e na disponibilidade.
- Aplicativos de Campo: O instalador solar utiliza aplicativos móveis para registrar digitalmente todo o processo (check-in/check-out, fotos da obra, medições). Esses dados são integrados instantaneamente ao sistema central da empresa, garantindo conformidade com a regulamentação e rastreabilidade completa do projeto.
O desafio e a transformação do RH
Com a crescente complexidade técnica dos projetos e a exigência de operar com alta eficiência, o perfil do profissional solar está mudando. Informações da Everflow destacam a Transformação do RH e a busca por talentos, e isso é essencial para o setor solar.
O foco na qualificação vai fazer a diferença. O mercado não precisa apenas de instaladores, mas de profissionais que saibam manusear as novas ferramentas digitais e que tenham um conhecimento aprofundado em sistemas, baterias e inversores híbridos. Entidades setoriais têm enfatizado a necessidade de capacitação contínua para lidar com a evolução tecnológica dos equipamentos e a complexidade regulatória.
Um mercado mais maduro e eficiente
Até 2026, a pressão regulatória e a rápida adoção de tecnologias vão consolidar o mercado de instalação solar brasileiro. As empresas que sobreviverem e prosperarem serão aquelas que investiram em:
- Eficiência Operacional: Utilizando IA e Automação para reduzir custos e tempos de projeto.
- Adaptação Regulatória: Dominando os novos modelos de precificação e garantindo a conformidade.
- Qualificação de Pessoal: Desenvolvendo equipes capazes de operar em um ambiente digital e tecnicamente exigente.
O resultado será um mercado de GD mais profissional, mais competitivo e, fundamentalmente, mais eficiente, alinhado às práticas de serviços de campo mais avançadas globalmente.
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