A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), sediada pela primeira vez na Amazônia brasileira, em Belém (PA), tornou-se o palco global para demonstrar o engajamento inadiável e o protagonismo efetivo de todo o setor empresarial brasileiro na agenda climática. De grandes indústrias a pequenas e médias empresas (PMEs), a mensagem é clara: o setor produtivo não apenas acredita na sustentabilidade, mas investe, inova e age para transformar a transição para uma economia de baixo carbono em uma agenda de prosperidade e inclusão social.
A Conferência, que se estende de 10 a 21 de novembro de 2025, reúne líderes mundiais para negociar o avanço do Acordo de Paris e discutir financiamento climático, mas é o setor privado que tem mostrado, com soluções concretas e metas ambiciosas, que “o momento é de agir”.
A presença marcante da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na Blue Zone da COP30 simboliza o compromisso do setor empresarial, em especial, a indústria brasileira, em ser uma força motriz na descarbonização. Na abertura oficial do estande da CNI, o presidente Ricardo Alban ressaltou que a transição climática precisa ser vista como uma agenda de prosperidade e qualidade de vida, defendendo que o crescimento econômico é o caminho mais justo para melhorar as condições sociais, especialmente em regiões necessitadas como a faixa equatorial.
“Não podemos desperdiçar a oportunidade que está sendo dada a regiões tão necessitadas como a faixa equatorial,” afirmou Alban, ao defender a construção de uma nova indústria e um novo Brasil.
Essa visão é reforçada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), Alex Carvalho, que salientou a necessidade de integrar dimensões ambientais, sociais e econômicas. Para ele, o potencial da bioeconomia amazônica deve ser transformado em escala e impacto, superando desigualdades e afirmando um novo modelo de desenvolvimento.
O setor demonstrou sua capacidade de mobilização com a iniciativa Sustainable Business COP (SB COP), lançada pela CNI e que já alcançou a marca de 40 milhões de empresas em mais de 60 países. Contudo, o recado é transformar ambição em resultados concretos, conforme pontuou Ricardo Mussa, chair da SB COP. Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível do Clima da COP30, corroborou essa visão, destacando que “agir contra a mudança de clima é, ao mesmo tempo, uma oportunidade de crescimento e um caminho essencial para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico.”
Soluções e inovação do setor empresarial
O Serviço Social da Indústria (SESI) levou à COP30 soluções que integram saúde do trabalhador e clima, reforçando a resiliência do setor produtivo. Com foco em mitigação e adaptação, o SESI apresentou iniciativas concretas:
Protocolo de Respostas às Emergências Climáticas por Inundação para a Indústria: Resultado de uma cooperação técnica com o Ministério da Saúde, o documento estrutura procedimentos de prevenção, resposta e recuperação pós-desastre, integrando o setor produtivo à Defesa Civil.
Calculadora de Descarbonização da Saúde: Uma ferramenta digital que compara diferentes formas de atendimento e exames, apresentando em $CO_2$ equivalente o impacto de cada escolha, indicando opções de menor emissão e reforçando o cuidado preventivo.
Embarcação Saúde Conectada: Um modelo de baixo impacto ambiental, com motores elétricos e painéis solares, projetado para levar saúde de forma remota e especializada a trabalhadores de comunidades ribeirinhas da Amazônia.
Em paralelo, o Pacto Global da ONU – Rede Brasil, a segunda maior rede local do mundo com mais de 2.000 participantes, reforçou o papel do setor privado com o lançamento do Guia Empresarial de Combate ao Lixo no Mar e o protótipo Moeda Circular, do projeto ReInova. Iniciativas como a inauguração de uma das maiores fábricas de reciclagem da região Norte pela Coca-Cola, mencionada pela diretora Katielle Haffner, ilustram que a economia circular só funciona quando valoriza as pessoas e o território, gerando impacto real.
A força transformadora das PMEs com o Sebrae
Se as grandes empresas lideram a vanguarda, as micro e pequenas empresas (PMEs) — a espinha dorsal da economia brasileira — ganham voz e destaque na “COP da Verdade”, como a definiu o presidente Lula. O Sebrae marca uma presença robusta com um estande imersivo na Green Zone, transformando o espaço em uma vitrine de inovação, cultura e da bioeconomia brasileira.
O presidente do Sebrae, Décio Lima, defendeu a inclusão dos pequenos negócios para uma transição sustentável, citando o impacto das catástrofes climáticas e afirmando que o compromisso é com o ser humano.
“Estamos realizando a COP real, que se faz a partir dos nossos seis biomas, da Amazônia viva e da força do povo brasileiro. O Brasil dá um passo fundamental, é um exemplo para a humanidade.”
O Sebrae está focado em um dos maiores entraves: o financiamento verde. Em painéis com representantes do BNDES e do Banco do Nordeste, o coordenador Giovanni Bevilaqua destacou a urgência de colocar as PMEs no centro do debate econômico, facilitando o acesso ao crédito da sustentabilidade.
O BNDES, através do Fundo Garantidor BNDES-Sebrae, já apoiou mais de R$ 2 bilhões em operações e citou programas como o Fundo Clima e o financiamento de máquinas de baixo carbono, reiterando que a agenda verde é estratégica para transformar a base produtiva nacional.
O Banco do Nordeste reforçou seu compromisso, operando 14 mil transações diárias de microfinanças.
Com projetos como o painel sobre Mulheres da Bioeconomia – Empreendedorismo Regenerativo, o Sebrae demonstra que a inovação tecnológica e social pode alavancar negócios sustentáveis, unindo saberes ancestrais, ciência aplicada e o uso consciente dos recursos naturais. A presença na COP30 é a prova de que os pequenos negócios estão atentos, engajados e são protagonistas na reorganização dos processos produtivos com foco em sustentabilidade.
O setor empresarial brasileiro, em sua integralidade – da gigante à PME – está, portanto, na COP30 para cumprir um papel fundamental: apresentar resultados, inspirar o futuro e acelerar a implementação de soluções que garantam um desenvolvimento que equilibre o crescimento econômico com a conservação ambiental e a equidade social.
Foto Raimundo Pacco/COP30
