Mudanças Climáticas

COP30: Conferência chega ao final com aprovação do Pacote de Belém e a Indústria em busca da descarbonização competitiva

COP30 Conferência chega ao final com aprovação do Pacote de Belém e a Indústria em busca da descarbonização competitiva - Fitec Tec News

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, encerrou oficialmente, dia 22 de novembro, em Belém, PA, com a aprovação do Pacote de Belém, um conjunto de 29 decisões que visam acelerar a ação climática global. No entanto, o verdadeiro destaque para o futuro da economia brasileira e amazônica residiu no forte engajamento do setor produtivo. Representantes das indústrias, juntamente com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), deixaram a capital paraense com um roteiro claro: a descarbonização não é mais um custo, mas sim um pilar de competitividade e inovação industrial. O foco se concentrou na criação de mecanismos financeiros, na transição energética e na formulação da Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial (ENDI).

 

As Indústrias e o Governo na Agenda Verde

O ponto central da articulação entre governo e setor privado na COP30 foi o lançamento da Consulta Pública para a Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial (ENDI). A iniciativa, liderada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), visa transformar a matriz produtiva brasileira para enfrentar as exigências do mercado global por baixo carbono.

A CNI assinou uma Carta de Engajamento pró-descarbonização, comprometendo-se a mobilizar o setor para a construção de uma política industrial verde. A confederação destacou que a ENDI deve ser estruturada em quatro eixos prioritários: Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I); produção e uso de Insumos Descarbonizantes (como hidrogênio de baixa emissão e biocombustíveis); Estímulo à Demanda por produtos verdes; e Financiamento facilitado para a transição.

O CEBDS atuou como um catalisador para a mobilização do capital privado e a integração da agenda climática nas decisões corporativas. A organização ressaltou a importância de mecanismos financeiros como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, apoiado por 63 países e que já mobilizou US$ 6,7 bilhões, como um modelo que busca atrair o setor financeiro privado ao garantir taxas de retorno compatíveis com a preservação florestal.

Outro foco do conselho foi a defesa da bioeconomia como um motor de desenvolvimento regional, ligando a inovação das empresas à conservação da Amazônia.

Compromissos setoriais em destaque

Diversas empresas brasileiras e multinacionais com atuação no Brasil utilizaram a COP30 para detalhar seus planos de redução de emissões e inovação tecnológica:

  • Energia e Infraestrutura: A ENGIE Brasil obteve reconhecimento global por seu Programa de Descarbonização de Fornecedores, sendo um caso de estudo selecionado para a plataforma Business Action Bank, que foca em reduzir as emissões de Escopo 3 (indiretas) de sua cadeia.
  • Transporte e Logística: A Toyota reforçou seu papel na transição, destacando o desenvolvimento e a produção de veículos híbridos flex, uma solução que capitaliza a matriz de etanol do Brasil para oferecer descarbonização imediata no transporte. A Randoncorp apresentou inovações como o sistema e-Sys, focado na recuperação de energia cinética em caminhões para aumentar a eficiência e reduzir o consumo de combustível.
  • Construção e Consumo: O setor da construção civil, representado pela MRV, destacou a busca por materiais de menor pegada de carbono e o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis. Empresas de consumo como a Lojas Renner S.A. e o Grupo L’Oréal reforçaram seus compromissos com a economia circular e a redução de resíduos, com ênfase na descarbonização das operações logísticas e fabris.
  • Liderança em Soluções Tecnológicas: A Schneider Electric emergiu como um dos principais players na agenda de descarbonização industrial. Além de formalizar um acordo de cooperação com o MDIC para subsidiar a ENDI com dados e tecnologias, a empresa destacou a necessidade urgente de capacitação e requalificação de mão de obra. A Schneider apresentou estudos que projetam a criação de até 760 mil novos empregos em bioenergia no Brasil até 2030, reforçando que a eletrificação e a digitalização são as ferramentas mais eficientes para reduzir as emissões industriais e garantir uma Transição Justa no país.

 

Roteiros para o futuro Pós-COP30

Apesar das tensões nas negociações sobre o phasing out (eliminação gradual) dos combustíveis fósseis no texto final, a Presidência brasileira da COP30 anunciou a continuidade dos trabalhos através de roteiros nacionais:

  1. Mapa do Caminho para a Transição dos Combustíveis Fósseis: Com foco em uma transição “justa, ordenada e equitativa”.
  2. Mapa do Caminho para interromper e reverter o desmatamento: Reforçando o compromisso de zerar o desmatamento ilegal.

Esses roteiros, combinados com a Estratégia ENDI e o capital mobilizado, definem a agenda da indústria brasileira para os próximos anos, onde a sustentabilidade será inseparável da competitividade global.

Apesar dos limites do consenso multilateral, os líderes brasileiros encerraram a conferência com a visão de que Belém marca um novo ponto de partida para a ação climática.

A Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, enfatizou a importância dos resultados alcançados pelo Brasil: “A transição justa ganhou corpo e voz. Lançamos o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, mecanismo inovador que valoriza aqueles que conservam e mantêm as florestas tropicais. Cento e vinte e duas Partes apresentaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas. São ganhos fundamentais para o multilateralismo climático”, destacou.

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, reforçou a perspectiva de que o trabalho de implementação está apenas começando e se estenderá por toda a sociedade, incluindo o setor privado: “Ao sairmos de Belém, esse momento não deve ser lembrado como o fim de uma conferência, mas como início de uma década de mudança. O espírito que construímos aqui não termina com o martelo batido. Ele permanece em cada reunião governamental, em cada conselho de administração e sindicato, em cada sala de aula, laboratório, comunidade florestal, grande cidade e cidade costeira”, concluiu.

Em 2026, a Turquia sediará a COP-31 após acordo com Austrália, que irá receber acordos preparatórios.

Foto: Rafa Neddermeyer/COP30-Divulgação

 

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