Vivemos um tempo em que a velocidade das mudanças no mercado de trabalho parece atropelar quem insiste em fórmulas antigas. Não é exagero: segundo o Future of Jobs Report 2023, do Fórum Econômico Mundial, cerca de 14 milhões de postos de trabalho devem desaparecer nos próximos cinco anos. Em paralelo, quase metade da força de trabalho global vai precisar se requalificar para não perder espaço. A pesquisa Pearson Skills Outlook 2023 reforça esse ponto: 44% da mão de obra terá que ser atualizada até 2030, e pelo menos 1 bilhão de pessoas vai precisar de programas de upskilling. Com isso, a Empregabilidade 5.0 entra em cena.
A pergunta é direta: o que diferencia quem conquista oportunidades de quem fica para trás?
Soft Skills: A moeda forte do Século XXI
A resposta está no que especialistas estão chamando de Empregabilidade 5.0, um conceito que conecta as tendências da Educação 5.0 e da Sociedade 5.0 ao mundo do trabalho. Aqui, não basta dominar a técnica. “É preciso desenvolver competências humanas, digitais e ambientais, em sintonia com problemas reais e urgentes”, afirma Alexandre Gracioso (foto), porta-voz da Pearson High Education Brasil e especialista em educação.
Se antes um diploma era garantia de empregabilidade, hoje o jogo mudou. O que vale mesmo são as habilidades que não aparecem no currículo tradicional: pensamento crítico, comunicação clara, empatia, colaboração e liderança. Essas são as chamadas soft skills, e não se trata de modismo. O economista David Deming já havia demonstrado em 2015, em pesquisa publicada pelo NBER, que salários crescem de forma mais consistente em carreiras que combinam raciocínio lógico com fortes competências sociais.
Empresas no Brasil e no mundo estão validando isso na prática. O relatório do Fórum Econômico Mundial mostra que criatividade, resiliência, flexibilidade e aprendizado contínuo aparecem entre as dez habilidades mais demandadas até 2027. Curiosamente, são competências difíceis de automatizar.
“Enquanto a inteligência artificial assume tarefas repetitivas, os profissionais que sabem dialogar, resolver conflitos e pensar ‘fora da caixa’ se tornam insubstituíveis,” pontua Gracioso.
No Brasil, o cenário é ainda mais desafiador: 23% dos jovens não estudam nem trabalham, segundo a Fundação Dom Cabral, e a taxa de desemprego chega a 10%. Nesse contexto, investir em soft skills pode ser não apenas um diferencial, mas um passaporte para sair da estatística da desocupação.
Competências Digitais e Verdes: O novo currículo invisível na Empregabilidade 5.0
Não é mais possível falar de empregabilidade sem tocar em dois pontos centrais: digitalização e sustentabilidade. O primeiro já é realidade. Dados do Fórum Econômico Mundial mostram que 42% das empresas vão priorizar big data e inteligência artificial até 2027.
Isso significa que qualquer área, do marketing ao direito, precisa se alinhar a essa alfabetização tecnológica. Não basta usar aplicativos: trata-se de compreender como algoritmos impactam decisões, como a análise de dados pode criar estratégias mais inteligentes e como a automação pode liberar tempo para funções criativas.
Mas o verdadeiro salto da Empregabilidade 5.0 está nas competências verdes. Um levantamento de 2023 do LinkedIn citado pelo Fórum Econômico Mundial revelou que profissionais certificados em competências ambientais têm 50% mais chances de serem contratados.
Isso inclui desde engenheiros capazes de aplicar conceitos de economia circular até administradores que avaliam impactos de logística reversa. “O profissional do futuro é aquele que, além de dominar técnicas, consegue medir consequências sociais e ambientais de suas decisões”, explica o especialista Alexandre Gracioso. Essa é a lógica que começa a remodelar currículos universitários e programas de qualificação no Brasil e no mundo.
Do Currículo ao Protagonismo: O que Muda na Vida Real
Falar de novas competências é inspirador, mas a questão prática é inevitável: como isso afeta a vida de quem busca trabalho hoje? Pesquisas da ABMES em parceria com a Simplicity mostram que cursos que combinam competências técnicas e habilidades aplicadas geram salários mais altos e trajetórias profissionais mais estáveis.
A explicação é simples: quem aprende a integrar soft skills, competências digitais e verdes se torna mais adaptável em um mercado em constante mutação.
O exemplo clássico é o de Leonardo da Vinci, que no século XV já se vendia como um “profissional renascentista”, destacando sua versatilidade em engenharia, ciência e arte. Séculos depois, essa lógica volta à cena. “O profissional 5.0 é aquele que não se define por um título, mas pela capacidade de aprender, desaprender e reaprender, movendo-se entre áreas e inovando em cada uma delas”, diz Gracioso.
No Brasil, isso depende também de políticas públicas que incentivem a qualificação e de instituições que invistam em metodologias mais ativas, com projetos que envolvam problemas reais. É nesse cruzamento entre educação, inovação e sustentabilidade que o conceito de Empregabilidade 5.0 ganha força:
“Mais do que uma tendência de mercado, trata-se de uma mudança de mentalidade necessária para que trabalhadores, empresas e a sociedade consigam avançar juntos em um cenário de rápidas transformações”, conclui Alexandre Gracioso.
O especialista finaliza fazendo um apelo direto: cabe às instituições de ensino superior e aos gestores educacionais investir em soluções digitais que ampliem a capacitação de estudantes e profissionais além do ensino básico e tradicional. “Só assim será possível formar trabalhadores capazes de enfrentar os desafios de um mundo em constante reinvenção e, de fato, tornar-se 5.0.”
Foto: Pearson High Education Brasil/Divulgação
