Levantamento recente da Transparência Internacional – Brasil descortinou uma realidade já conhecida: mesmo com avanços, a maioria das prefeituras ainda não divulga o básico sobre recursos públicos, emendas parlamentares, execução de obras e participação social. Já no que se refere ao enfrentamento da crise climática, os dados do Índice de Transparência e Governança Pública – Municipal (íntegra aqui), que avaliou 329 prefeituras em 11 estados, é ainda mais desafiador: de 233 cidades analisadas, apenas 13% têm planos de enfrentamento à crise do clima; 92% não publicam sobre consultas e audiências públicas relacionadas ao tema e 38% das estruturas de Defesa Civil possuíam planos de contingência.
Está mais que provado: é urgente a promoção de ações efetivas para as cidades lidarem com as condições do clima atual, ou seja, extremos de chuvas, calor e frio. Eis que áreas, como a engenharia, estejam em constante articulação para fornecer soluções para tal. Fábio Bernardino, engenheiro civil especialista em gestão de recursos hídricos e infraestrutura, destaca que o futuro da construção urbana passa, inevitavelmente, pelo uso de materiais alternativos. “A construção civil brasileira ainda carrega um excesso de sofisticação desnecessária em suas técnicas, aplicando métodos e insumos de alto custo até mesmo em obras simples”, diz.
Bernardino salienta ainda que é possível simplificar, utilizando renováveis e biodegradáveis nesses processos. “Construímos uma casa da mesma forma que construímos um prédio de luxo, gerando desperdício e maior impacto ambiental. Poderíamos usar madeira de reflorestamento, bambu ou tijolos ecológicos, que além de mais baratos, reduzem emissões de CO₂ e consomem menos energia em sua produção”, frisa.
Urbanismo social
Outra forma é a adesão ao urbanismo social, ou seja, a escuta ativa das comunidades nessas participações, com políticas públicas para qualificação de áreas vulneráveis, redução de desigualdades sociais, valorização de territórios, tornando-os mais acolhedores, seguros e inclusivos.
Kátia Mello, sócia-fundadora da empresa Diagonal, professora do Insper e uma das autoras do Guia Prático de Urbanismo Social, em artigo assinado para o site Haus a convite do Instituto Jaime Lerner, explica que questões de violência urbana e o estado do clima são estruturalmente interligadas e territorializadas, necessitando de respostas urgentes, e, sobretudo, exigindo a regeneração territorial.
Para ela, regenerar é reconstruir confiança e fortalecer vínculos, com a presença pública qualificada em territórios historicamente desestruturados por conta da omissão e de políticas fragmentadas. O urbanismo social é um dos caminhos mais promissores e consistentes para esse ponto de mudança, defende a especialista.
Por Keli Vasconcelos – Jornalista
Foto: TopazGigapixel – Divulgação
