Por Sofia Jucon e Gabriel Waldrigues
Artigo original publicado na Revista Estradas, edição 30

- RESUMO
A urgência da crise climática e o imperativo da descarbonização impõem ao setor de transportes, considerado um dos maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE), a necessidade de uma transformação profunda. No Brasil, essa agenda se alinha a uma matriz energética limpa, com vasto potencial em energias renováveis e biocombustíveis, e a um mercado regulado de carbono. No entanto, a transição para uma infraestrutura de transportes de baixo carbono não pode ser dissociada da segurança e saúde do trabalho (SST). Este artigo analisa a interdependência desses dois temas, demonstrando que a descarbonização é um processo que impacta diretamente a rotina dos trabalhadores e deve ser gerido com a mesma seriedade em termos de proteção laboral. O artigo, baseado em extensa pesquisa documental e bibliográfica, investiga como a modernização da infraestrutura, a adoção de novas tecnologias e a mudança na matriz energética criam novos riscos e, simultaneamente, abrem oportunidades para ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis. A metodologia utilizada abrange a análise de dados e propostas de entidades como a Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Confederação Nacional do Transporte (CNT), cruzando-os com pesquisas sobre o impacto do calor extremo e as normativas de SST. A análise dos resultados demonstra que a integração das agendas de descarbonização e SST resulta em benefícios múltiplos: redução de emissões, maior eficiência operacional, diminuição de acidentes e doenças ocupacionais, e o fortalecimento de uma cultura preventiva. O artigo destaca, em particular, a importância de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como o protetor solar, e a relevância de práticas sustentáveis na produção de sinalização e materiais de pavimentação. Conclui-se que o futuro da infraestrutura de transportes no Brasil e no mundo reside em uma abordagem holística, na qual a busca pela qualidade ambiental e por ambientes de trabalho seguros caminham lado a lado, gerando valor para empresas, trabalhadores, órgãos públicos, entidades corporativas e a sociedade como um todo.
- INTRODUÇÃO
O século XXI enfrenta o desafio urgente da crise climática, impulsionada pela emissão de gases de efeito estufa (GEE), na qual o setor de transportes é um dos principais responsáveis. No Brasil, dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostram que o transporte responde por cerca de 47% das emissões energéticas, um número alarmante, em grande parte devido à predominância do modal rodoviário, que transporta 61% da carga e 92% dos passageiros (FITEC AMBIENTAL, 2025). Essa realidade torna a descarbonização da infraestrutura de transportes uma prioridade nacional.
A agenda de sustentabilidade, alinhada a iniciativas globais como o Acordo de Paris e nacionais como o novo Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), transcende o aspecto ambiental e se integra aos pilares econômicos, sociais e de governança (ESG) (LOGWEB, 2025). Nesse cenário, a descarbonização vai além da simples troca de combustíveis fósseis por limpos, exigindo uma reestruturação sistêmica da infraestrutura e das práticas laborais. É aqui que a Segurança e Saúde do Trabalho se torna um componente essencial e inseparável do processo de transição.
Tradicionalmente, sustentabilidade e SST eram tratadas como agendas separadas, mas a modernização tecnológica, como a eletrificação de frotas e o uso de novos materiais, cria a necessidade de uma visão integrada. A exposição de trabalhadores ao calor extremo (DIAS, 2025), o manuseio de novos materiais e a necessidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) sustentáveis são exemplos de como a descarbonização gera novos desafios e exige a atualização das normas de SST. A pesquisa conduzida para este artigo mostra que, ao abordar a descarbonização, é fundamental considerar os riscos e oportunidades para o bem-estar dos profissionais na linha de frente.
O objetivo deste artigo é mostrar que a união da descarbonização e da SST é fundamental para o sucesso da agenda climática. A descarbonização não é apenas uma meta ambiental; é um processo que impacta diretamente a rotina de trabalho e deve ser gerenciado com a mesma seriedade em termos de segurança e saúde dos trabalhadores. Em última análise, espera-se que todos os envolvidos — empresas, órgãos públicos e privados, trabalhadores e a população — entendam que as boas práticas ambientais e os ambientes de trabalho seguros e saudáveis são mutuamente benéficos, gerando valor para a sociedade como um todo.
- METODOLOGIA
A presente pesquisa foi desenvolvida a partir de uma abordagem metodológica qualitativa e documental. O levantamento de dados e informações para a construção deste artigo técnico foi realizado por meio da análise de uma vasta gama de materiais, incluindo estudos, relatórios, comunicados e artigos de imprensa de entidades e publicações especializadas.
A pesquisa documental incluiu:
- Estudos e relatórios de entidades setoriais e de pesquisa: análise de documentos técnicos da Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, um grupo multissetorial com mais de 50 organizações. Foram consultados os planos e propostas para a redução de emissões no setor de transportes, que propõem 90 ações concretas e mensuráveis, integrando segmentos como o rodoviário, ferroviário, aéreo e hidroviário (COALIZAÇÃO DOS TRANSPORTES, 2025).
- Publicações de órgãos governamentais e bancos de desenvolvimento: revisão de documentos e relatórios do BNDES, que conectam a descarbonização da infraestrutura de transportes a políticas públicas (BNDES, 2025). Análise de iniciativas de órgãos como o Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo (DER-SP), que assumiu formalmente um compromisso de descarbonização de suas operações; o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER) do Rio Grande do Sul e a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), que também implementam abordagens que alinham sustentabilidade e segurança; e o Programa Trabalho Seguro da Justiça do Trabalho.
- Análise de materiais de referência em SST: investigação de guias e comunicados da Justiça do Trabalho e da Fundação Jorge Figueiredo Duprat de Segurança e Saúde do Trabalho (Fundacentro), que tratam do impacto do calor extremo e da importância de normas regulamentadoras como a NR-15 (Atividades e Operações Insalubres) e a NR-4 (Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho).
- Artigos e entrevistas: compilação e síntese de informações de especialistas do setor, como Victor Cavalcanti (Infleet), Reinaldo Dias (EcoDebate) e Remígio Todeschini, (Fundacentro), que abordam as perspectivas tecnológicas, os desafios da transição energética e a importância das ações integradas junto à SST.
- Legislação e normativas: referência à legislação relevante, como a Lei nº 15.042/2024, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), e as normas do MTE e da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg) sobre a importância da sustentabilidade na produção e no descarte de EPIs.
A análise dos dados buscou estabelecer conexões diretas entre as estratégias de descarbonização e os aspectos de SST. O método consistiu em identificar em cada material as ações propostas para a redução de carbono e, em seguida, mapear os riscos e as oportunidades que essas ações geram para a segurança e saúde dos trabalhadores. Por exemplo, a adoção de biocombustíveis e a eletrificação de frotas foram relacionadas à redução da poluição do ar e à consequente melhoria das condições de trabalho para motoristas e profissionais de manutenção. Da mesma forma, a pavimentação de concreto e o uso de plásticos reciclados foram associados à diminuição de materiais tóxicos e à maior durabilidade da infraestrutura, impactando positivamente a segurança viária e o bem-estar dos profissionais de manutenção.
A estrutura do artigo foi organizada para refletir essa análise integrada, partindo de uma visão macro da descarbonização e aprofundando-se nos impactos específicos no ambiente de trabalho e nas normativas de segurança, culminando em uma seção que apresenta as conclusões e os benefícios sinérgicos da união de ambas as agendas.
- ANÁLISE DOS RESULTADOS
A pesquisa realizada revela que a descarbonização da infraestrutura de transportes no Brasil é um processo multifacetado, com implicações que se estendem muito além das metas de emissão. A análise detalhada dos materiais consultados permite estruturar a discussão em quatro eixos interconectados: a reestruturação da matriz de transportes, a inovação em materiais e tecnologias, os impactos diretos do calor extremo na saúde ocupacional e a governança integrada de sustentabilidade e SST.
4.1. Reestruturação da matriz de transportes e a segurança ocupacional
A Coalizão para a Descarbonização dos Transportes aponta a reestruturação da matriz como uma das principais alavancas para a redução de emissões, propondo o aumento da participação dos modais ferroviário e hidroviário de 31% para 55% até 2050 (COALIZÃO DOS TRANSPORTES, 2025). Essa mudança estrutural, embora desafiadora, oferece benefícios diretos para a SST. O modal rodoviário, predominante no país, expõe os profissionais a uma série de riscos, como acidentes em estradas em mau estado de conservação, longas jornadas de trabalho, e a poluição atmosférica causada pelos combustíveis fósseis.
A CNT aponta que rodovias precárias aumentam o consumo de combustível e a emissão de poluentes. A migração de cargas para modais ferroviário e hidroviário, mais eficientes, diminui o número de caminhões e os riscos para motoristas. Segundo Victor Cavalcanti (Infleet), a humanização da gestão é fundamental (FITEC AMBIENTAL, 2025). Ferramentas como a videotelemetria, que monitora o motorista em tempo real, contribuem diretamente para a descarbonização, pois um condutor seguro e descansado é mais eficiente, consome menos combustível e emite menos poluentes. Empresas que usam essa tecnologia reduzem em até 60% as colisões e 80% as distrações no trânsito, provando o impacto positivo da SST na eficiência operacional e ambiental (FITEC AMBIENTAL, 2025).
A eletrificação da frota, com a meta de eletrificar 50% dos carros de passeio e 300 mil ônibus até 2050 (COALIZÃO DOS TRANSPORTES, 2025), é outra iniciativa importante. A transição para veículos elétricos e a gás natural veicular (GNV), como o projeto Corredores Sustentáveis da Naturgy, não apenas reduz a emissão de CO2 e material particulado, mas também diminui a poluição sonora (NATURGY, 2025). A CNT e o BNDES reforçam a necessidade de investimentos em infraestrutura de recarga para viabilizar essa transição, um ponto essencial para a segurança energética e a sustentabilidade (BNDES, 2025). A valorização dos biocombustíveis, como o etanol e o biometano, também é uma rota promissora, como mostra o estudo da USP para o MBCBrasil, que reitera que o Brasil não precisa esperar por inovações futuras, pois já domina tecnologias que podem reduzir a pegada de carbono do setor (MBCBRASIL, 2025).
4.2. Inovação em materiais e a proteção do trabalhador
A descarbonização na infraestrutura de transportes também impulsiona a inovação no uso de materiais, com impacto direto na SST. Dois exemplos notáveis são a pavimentação com plástico reciclado e o uso de concreto.
A iniciativa da Dow em parceria com a Eixo SP, que utiliza plástico pós-consumo em pavimentação, dá uma nova vida a cerca de 200 mil embalagens plásticas por quilômetro de estrada (CICLO VIVO, 2025). Além do benefício ambiental de desviar resíduos de aterros, o asfalto modificado com a tecnologia Elvaloy aumenta a vida útil das estradas (CICLO VIVO, 2025). A maior durabilidade do pavimento diminui a frequência com que esses profissionais precisam atuar na pista, minimizando a exposição a riscos e a emissão de carbono associada à produção e ao transporte de novos materiais.
O estudo da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), com base em pesquisa do MIT, reforça os benefícios do uso do concreto na pavimentação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2025). A adoção de concreto, que tem uma durabilidade de no mínimo 20 anos, em contraste com os 10 anos do asfalto, não só reduz a emissão de 18 milhões de toneladas de CO2 por ano, mas também diminui o desgaste dos veículos e, mais importante, melhora a segurança viária. O concreto não deforma, não forma trilhas de rodas nem buracos e, por ser mais claro, reflete mais luz, diminuindo a necessidade de iluminação noturna nas rodovias e economizando energia elétrica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2025).
4.3. A relação entre a descarbonização, EPIs e a saúde do trabalhador
A manutenção das rodovias exige a mobilização de equipes especializadas, que atuam em um ambiente de alto risco, expostos a condições como calor intenso, fumaça de escapamentos e o tráfego contínuo. A segurança e saúde desses profissionais dependem diretamente de uma gestão integrada que considere tanto os riscos imediatos quanto os impactos ambientais de longo prazo. A pesquisa destaca a relevância dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) como a primeira linha de defesa. Para trabalhadores em estradas e rodovias, os EPIs essenciais incluem: capacete de segurança, colete refletivo, óculos de proteção, luvas de proteção, calçado de segurança, protetor auricular, máscaras respiratórias e protetor solar.
A produção e o descarte desses EPIs também se inserem na agenda da descarbonização. A Fundacentro e a Animaseg alertam para o alto volume de resíduos plásticos e sintéticos gerados pelo descarte inadequado de EPIs (ANIMASEG, 2025). Segundo a Fundacentro, somente o setor industrial brasileiro pode gerar mais de 30 mil toneladas anuais de resíduos plásticos e sintéticos provenientes de EPIs descartados (ANIMASEG, 2025). A busca por materiais sustentáveis na fabricação de equipamentos de proteção, a implementação de programas de logística reversa e a educação ambiental para o descarte correto são ações que fecham o ciclo da sustentabilidade, mostrando que a proteção do trabalhador e a proteção do planeta são faces da mesma moeda.
Além dos EPIs, a pesquisa revelou a preocupação com os materiais utilizados em sinalização e pavimentação. Suportes de sinalização de madeira podem ser provenientes de corte de árvores, e estruturas metálicas, quando soldadas, liberam fumaça. A descarbonização na cadeia de suprimentos e nas práticas de trabalho exige que as empresas busquem alternativas, como suportes de materiais reciclados e processos de produção que minimizem as emissões. A iniciativa do DER-SP de utilizar hidrossemeadura para proteger taludes e encostas, além de reduzir o impacto ambiental, contribui diretamente para a segurança, evitando deslizamentos de terra (DER-SP, 2025).
Em depoimento aos autores, Remígio Todeschini, diretor de Conhecimento da Fundacentro, destacou que a descarbonização no setor de transportes, quando feita de forma integrada com a Segurança e Saúde do Trabalho, resulta em menos emissões, menor contaminação e maior qualidade de vida. Ele ressalta que a otimização logística, com a preferência por modais de transporte público elétrico e ferroviário em detrimento de inúmeros veículos individuais, por exemplo, pode reduzir acidentes de trajeto e de trânsito.
A pesquisa de Reinaldo Dias, doutor em Ciências Sociais, sobre o impacto do calor extremo na saúde do trabalhador ecoa a urgência da agenda de SST no contexto de uma infraestrutura em constante transformação (DIAS, 2025). As ondas de calor, cada vez mais frequentes e intensas, afetam diretamente a produtividade e a saúde de profissionais que atuam ao ar livre ou em ambientes sem climatização (DIAS, 2025). Trabalhadores de construção civil, logística e transporte, especialmente motoristas e cobradores, estão entre os mais vulneráveis, enfrentando riscos como exaustão térmica, desidratação e o agravamento de doenças crônicas. A Justiça do Trabalho, através do programa Trabalho Seguro, reconhece o calor excessivo como um risco ocupacional relevante. A necessidade de regulamentar limites de exposição térmica, garantir pausas obrigatórias e acesso à hidratação constante é uma medida de SST que se alinha à agenda de adaptação climática (JUSTIÇA DO TRABALHO, 2025). O relatório da Allianz Trade aponta que o Brasil pode enfrentar perdas de produtividade de 6% até 2030 devido ao calor, o que reforça o impacto econômico direto da inação (ALLIANZ TRADE, 2024).
A Fundacentro se dispôs a organizar um curso para as bancadas da CTPP sobre a importância do aplicativo Monitor IBUTG, que auxilia trabalhadores, empregadores e profissionais de SST na avaliação da exposição ocupacional ao calor, demonstrando o avanço tecnológico na área de SST e a união de esforços para mitigar os riscos (FUNDACENTRO, 2025).
4.4. A governança integrada e o mercado de carbono
A Lei nº 15.042/2024, que cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), estabelece o arcabouço legal para a descarbonização no Brasil (PORTAL TEC NEWS, 2025). O mercado regulado de carbono, ao precificar as emissões, incentiva empresas a investirem em tecnologias limpas e eficientes. A integração da agenda ESG, como a da empresa Infleet, que gerencia dados de frota para reduzir custos e emissões, demonstra que a sustentabilidade pode se traduzir em vantagem competitiva. O CEO da Infleet, Victor Cavalcanti, afirma que o ESG é uma “ferramenta poderosa” que tem causado um efeito revolucionário, reduzindo acidentes, poluentes e custos (LOGWEB, 2025).
O estudo do MBCBrasil, ao reforçar o papel dos biocombustíveis como solução imediata para a descarbonização, ressalta a importância de um arcabouço regulatório que promova a inovação e o investimento (MBCBRASIL, 2025). A descarbonização não é um custo, mas um investimento com retorno financeiro, ambiental e social. Ao vincular a redução de emissões à diminuição de acidentes, o relatório da Infleet (FITEC AMBIENTAL, 2025) e os trabalhos da CNT e do BNDES (BNDES, 2025) mostram que as empresas que adotam práticas de sustentabilidade e SST se tornam mais eficientes, seguras e lucrativas.
A governança integrada significa que as decisões sobre investimentos em infraestrutura, frota e materiais devem ser tomadas em conjunto, considerando o impacto ambiental e o bem-estar dos trabalhadores. O DER-SP, ao contratar um inventário de carbono, demonstra que a gestão pública pode liderar esse movimento, criando um modelo a ser seguido por outras organizações (DER-SP, 2025). De forma similar, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER) do Rio Grande do Sul e a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) também implementam abordagens que alinham sustentabilidade e segurança. O DAER-RS, por exemplo, tem focado seus esforços na reconstrução de rodovias com ênfase na resiliência climática, um investimento de R$ 1,2 bilhão que indiretamente protege os trabalhadores de manutenção ao tornar a infraestrutura mais resistente a eventos extremos. O órgão também mantém uma Comissão Interna para implementar planos estruturados de saúde e bem-estar para seus servidores (DAER, 2025). Por sua vez, a EGR, que administra rodovias concedidas, adota um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), com programas que contribuem para a biodiversidade e a captura de carbono (EGR, 2025). Na área de SST, a EGR realiza reuniões e fiscalizações com empresas terceirizadas para debater as condições de segurança e o uso de EPIs (EGR, 2025).
Esses exemplos mostram que a parceria entre órgãos públicos, empresas e academia, como a que levou ao plano da Coalizão dos Transportes, é fundamental para a construção de soluções factíveis e de alto impacto (COALIZÃO DOS TRANSPORTES, 2025). Essa abordagem sistêmica garante que as metas de descarbonização sejam alcançadas sem comprometer a segurança e a saúde dos profissionais, criando um ciclo virtuoso de progresso e inovação.
- CONCLUSÕES
A transição para uma infraestrutura de transportes de baixo carbono é uma necessidade inadiável para o Brasil e para o mundo. O setor de transportes, considerado um dos maiores emissores de GEE, precisa de uma reestruturação completa para cumprir as metas climáticas e garantir um futuro sustentável. No entanto, o sucesso dessa jornada depende de uma abordagem integrada que coloque a segurança e a saúde do trabalho (SST) no centro da agenda de descarbonização.
A análise dos resultados demonstra que os esforços para mitigar as emissões de carbono, como a reestruturação da matriz de transportes (COALIZÃO DOS TRANSPORTES, 2025), a inovação em materiais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2025) e a eletrificação da frota (NATURGY, 2025), geram um efeito cascata de benefícios para a SST. A redução do tráfego rodoviário, a diminuição da poluição do ar e sonora (NATURGY, 2025), o uso de pavimentos mais duráveis (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND) e a adoção de tecnologias de monitoramento de motoristas (LOGWEB, 2025) contribuem diretamente para ambientes de trabalho mais seguros, saudáveis e menos estressantes.
Ao mesmo tempo, os desafios impostos por eventos climáticos extremos, como as ondas de calor, reforçam a urgência de políticas de SST que protejam os profissionais mais vulneráveis (DIAS, 2025; JUSTIÇA DO TRABALHO, 2025). O setor de transportes, com grande parte de seus trabalhadores expostos a condições externas, deve ser um dos primeiros a adotar medidas como a climatização de veículos, pausas obrigatórias para hidratação e a modernização de EPIs. A pesquisa evidenciou que itens como o protetor solar e as máscaras respiratórias são essenciais para a proteção diária. A gestão do descarte de EPIs, por meio de programas de logística reversa, se mostra vital para fechar o ciclo da sustentabilidade e reduzir o impacto ambiental de um setor que gera toneladas de resíduos plásticos e sintéticos (ANIMASEG, 2025).
A integração de sustentabilidade e segurança no trabalho beneficia empresas, trabalhadores e a sociedade. Empresas ganham em eficiência, economia e reputação (LOGWEB, 2025). Os trabalhadores se beneficiam de melhores condições, com menos exposição a poluentes e riscos de acidentes. A sociedade, por sua vez, desfruta de ar mais limpo, menos poluição sonora e mais segurança no trânsito, promovendo um futuro mais justo e resiliente.
Em suma, a descarbonização da infraestrutura de transportes não é apenas uma obrigação ambiental, mas uma oportunidade para o desenvolvimento sustentável com justiça social. O caminho a ser percorrido exige o engajamento de todos os setores – governo (DER-SP, 2025; DAER, 2025; EGR, 2025), iniciativa privada (LOGWEB, 2025; NATURGY, 2025) e sociedade civil – para que o futuro da mobilidade no Brasil seja não apenas mais limpo, mas também mais seguro e humano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGENDA ESG diminui acidentes nas estradas, emissão de poluentes e até custos no transporte. Logweb, [s. l.], 22 ago. 2025. Disponível em: https://logweb.com.br/agenda-esg-diminui-acidentes-nas-estradas-emissao-de-poluentes-e-ate-custos-no-transporte/. Acesso em: 22 ago. 2025.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Uso de concreto nas estradas brasileiras reduziria emissão de 18 milhões de toneladas de CO₂ por ano. Release recebido pelos autores em 12 ago. 2025.
BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES). Descarbonização na infraestrutura de transportes: o papel do Brasil na transição energética. Rio de Janeiro, 2025. Disponível em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/27347. Acesso em: 23 maio 2025.
BRASIL busca reduzir emissões com transporte mais limpo e eficiente. Fitec Ambiental, [s. l.], 22 ago. 2025. Disponível em: https://fitecambiental.com.br/brasil-busca-reduzir-emissoes-com-transportes-mais-limpos-e-eficientes/. Acesso em: 22 ago. 2025.
CALOR excessivo pode reduzir produtividade brasileira em 6%, aponta Allianz Trade. Release recebido pelos autores em: 13 maio 2024.
COALIZÃO DOS TRANSPORTES. Coalizão dos Transportes apresenta rota para reduzir em 70% as emissões até 2050 e atrair mais de R$ 600 bi em investimentos. [S. l.], 22 ago. 2025. Disponível em: https://www.motiva.com.br/noticias/coalizao-dos-transportes-apresenta-rota-para-reduzir-em-70-as-emissoes-ate-2050-e-atrair-mais-de-r-600-bi-em-investimentos/. Acesso em: 22 ago. 2025.
COMISSÃO TRIPARTITE PARITÁRIA PERMANENTE. Comissão Tripartite Paritária Permanente define consulta pública para NR 4. [S. l.], 2025. Disponível em: https://www.gov.br/fundacentro/pt-br/comunicacao/noticias/noticias/2025/junho/comissao-tripartite-paritaria-permanente-define-consulta-publica-para-nr-4. Acesso em: 23 ago. 2025.
DEPARTAMENTO AUTÔNOMO DE ESTRADAS DE RODAGEM (DAER). Governador anuncia investimento de R$ 1,2 bilhão para reconstrução de estradas e pontes. [S. l.], 2025. Disponível em: https://daer.rs.gov.br/governador-anuncia-investimento-de-r-1-2-bilhao-para-reconstrucao-de-estradas-e-pontes. Acesso em: 23 ago. 2025.
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DE SÃO PAULO (DER-SP). DER-SP assume compromisso de descarbonização e contrata inventário de carbono. [S. l.], 2025. Disponível em: https://semil.sp.gov.br/2025/06/der-sp-e-primeiro-do-brasil-a-assumir-compromisso-de-descarbonizacao-e-contratar-inventario-de-carbono/. Acesso em: 23 ago. 2025.
DIAS, Reinaldo. Calor extremo e saúde do trabalhador: o impacto das altas temperaturas em ambientes urbanos. Ecodebate, [s. l.], 30 abr. 2025. Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2025/04/30/calor-extremo-e-saude-do-trabalhador-o-impacto-das-altas-temperaturas-em-ambientes-urbanos/. Acesso em: 23 ago. 2025.
EMPRESA GAÚCHA DE RODOVIAS (EGR). Gestão ambiental. [S. l.], 2025. Disponível em: https://www.egr.rs.gov.br/gestao-ambiental. Acesso em: 23 ago. 2025.
ESPECIALISTAS opinam sobre novo regramento para o mercado de carbono no Brasil. [S. l.], 23 ago. 2025. Disponível em: https://portaltecnews.com.br/especialistas-opinam-sobre-novo-regramento-para-o-mercado-de-carbono-no-brasil/. Acesso em: 23 ago. 2025.
INOVAÇÃO e integração tecnológica facilitam a sustentabilidade na logística. Fitec Ambiental, [s. l.], 23 maio 2025. Disponível em: https://fitecambiental.com.br/inovacao-e-integracao-tecnologica-facilitam-a-sustentabilidade-na-logistica/. Acesso em: 23 maio 2025.
JUSTIÇA DO TRABALHO. Justiça do Trabalho lança guia digital sobre cuidados com trabalho no calor. [S. l.], 2025. Disponível em: https://portal.trt12.jus.br/noticias/justica-do-trabalho-lanca-guia-digital-sobre-cuidados-com-trabalho-no-calor. Acesso em: 23 ago. 2025.
LOGÍSTICA verde no Brasil: eficiência energética, emissões e o papel do planejamento no transporte de cargas. Fitec Ambiental, [s. l.], 23 maio 2025. Disponível em: https://fitecambiental.com.br/logistica-verde-no-brasil-eficiencia-energetica-emissoes-e-o-papel-do-planejamento-no-transporte-de-cargas/. Acesso em: 23 maio 2025.
NATURGY. Naturgy investirá R$ 300 milhões em infraestrutura para ampliação do projeto Corredores Sustentáveis. [S. l.], 28 jan. 2025. Disponível em: https://valor.globo.com/conteudo-de-marca/naturgy/noticia/2025/01/28/naturgy-investira-r-300-milhoes-em-ampliacao-de-corredores-sustentaveis.ghtml. Acesso em: 23 ago. 2025.
PAVIMENTAÇÃO com plástico reciclado chega às estradas do Brasil. Ciclo Vivo, [s. l.], 23 ago. 2025. Disponível em: https://ciclovivo.com.br/inovacao/tecnologia/pavimentacao-com-plastico-reciclado-chega-as-estradas-do-brasil/. Acesso em: 23 ago. 2025.
RECICLAGEM e descarte consciente de EPIs – Animaseg. Animaseg, [s. l.], 25 ago. 2025. Disponível em: https://animaseg.com.br/descarte-de-epi/. Acesso em: 25 ago. 2025.
SEMINÁRIO MBCBRASIL. Seminário MBCBrasil apresenta estudo que reforça o papel dos biocombustíveis como solução imediata para a descarbonização dos transportes. [S. l.], 23 maio 2025. Disponível em: https://mbcbrasil.com.br/seminario-mbcbrasil-apresenta-estudo-que-reforca-o-papel-dos-biocombustiveis-como-solucao-imediata-para-a-descarbonizacao-dos-transportes/. Acesso em: 23 maio 2025.
VOCÊ faz ideia do quanto o setor de EPI impacta na sustentabilidade? Instagram: Animaseg, [s. l.], 25 ago. 2025. Disponível em: https://www.instagram.com/p/DNlP5gXumvk/?hl=pt. Acesso em: 25 ago. 2025.
Autores
Sofia Jucon

Jornalista especializada em Sustentabilidade e Segurança e Saúde do Trabalho; editora e redatora do Portal Tec News; Formada em Comunicação Social pela Universidade Braz Cubas; pós-graduada em Gestão Ambiental (Senac-SP)
Gabriel Alessandro Waldrigues

Técnico de Segurança do Trabalho, Bombeiro Civil, jornalista e cursando Técnico em Estradas (Centro Profissional Especial – Jaboatão dos Guararapes – PE)
Foto de abertura: Banco de imagens licenciadas da AdobeStock
